Um rolê emo/gótico suave na Los Angeles brasileira

Há algum tempo ouvi de um amigo que Santa Cruz do Sul era a Los Angeles brasileira e não consigo imaginar uma definição mais improvável para esta cidade incrustada no coração do Rio Grande do Sul, colonizada por alemães e nada aberta à novidades e inovações culturais.
Ele nunca explicou os motivos para esse conceito, mas por achar tão aleatório assumi como piada e adotei essa alcunha como verdadeira.

Aleatoriedade e coerência são conceitos naturalmente divergentes. Quando dispostos dentro do mesmo conjunto a chance de dar errado é imensa. E como estamos aqui pelo erro, nada melhor que insistir no absurdo até o final.

Sexta-feira choveu demais e deu a impressão que o final de semana seria feio e triste. O sábado seguia na mesma toada e a piada que fazíamos era que pelo menos o clima seria propício para dançar com as paredes ouvindo o The Completers.

No meio da tarde abriu um sol meio triste e aguado, mas quente como o inferno e deixou claro que o universo conspirava a nosso favor. Garantida a dança regada à cerveja gelada no forno que se tornaria a sala da Casinha.

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Projeto vira a cruz, Santa Cruz!

Reconhecida pelos locais por Casinha do American Football, dado a semelhança da edificação com a retratada no álbum homônimo da banda seminal do emocore, recebeu os shows da The Completers e da CXS/POA para encerrar sua breve existência como pico para apresentação de bandas independentes.

A vida foi curta, mas os poucos eventos foram inesquecíveis. Além das bandas que se apresentaram no último sábado, o espaço já recebeu recebeu Diatribe, No Rest, Lo-Fight e supria a falta que o Banho Maria faz na cidade. Se antes eram raros os espaços disponíveis, arrisco dizer que agora não há mais nenhum.

A insistência da galera que mora por aqui fez com que por um período considerável a cidade fosse ponto recorrente para abrigar datas de turnês de bandas das mais variadas vertentes. Além da passagem de artistas de cidades da região ou da capital do estado, Santa Cruz do Sul recebeu bandas de todo canto do país e improváveis atrações estrangeiras como Riistetyt e Lapinpolthajat da Finlândia.

As coisas sempre aconteceram na base da vontade dos integrantes das bandas locais que organizam os shows e pouco tempo depois resultou na Thrash Unreal Records. O selo já lançou material das bandas Diatribe, Entre Rejas e Ornitorrincos, além do split entre os cariocas da The Alchemists e Parte Cinza. E em breve também lançarão o EP da The Completers em vinil 7”.

Como em outras localidades, os espaços cada vez mais escassos para receber shows de pequeno e médio porte sufocam a sobrevivência da cena subterrânea. A única vantagem desse processo é que cada evento realizado possui um componente de resistência e torna-os memoráveis.

Meio emo, meio gótico e completamente bêbado

Uma noite de primavera bem quente reuniu em torno de 50 pessoas, segundo estimativas do DataFALHA, para acompanhar os shows da CXS/POA e The Completers. Minhas impressões sobre o evento foram as melhores, ainda mais por estar abastecido por alguns litros de Beerdo, a cerveja que os guris produzem de maneira independente aqui na cidade.

A torneira de chopp e os abridores de garrafa trabalharam intensamente pra manter todo mundo hidratado.

A CXS/POA executou todo seu setlist com a afinação em um tom abaixo e com a configuração de bateria mais densa, deixando sua sonoridade mais carregada e propícia ao espaço. As músicas majoritariamente instrumentais não inibiu a interação do público que preencheu todo espaço disponível na sala.

O restante que circulava pelos corredores e pátio da casa também estavam atentos ao som ambiente. A casa não veio abaixo, mas vi um monte de gente com os olhos marejados ao final do show após o cover de American Football.

Pouco depois foi a vez da The Completers apresentar as músicas que estarão em seu próximo EP. Já falamos sobre a sonoridade da banda nos primeiros episódios de nosso podcast, e após acompanhar ao vivo pela primeira vez, confirmo tudo o que disse por lá.

O quarteto de post punk consegue equilibrar a coesão de suas músicas com a pegada que apresentações ao vivo pedem. Faltou espaço para que houvesse a esperada dança com a sombra nas paredes, mas em compensação sobrou vozes cantando ‘Silence’ – uma das músicas do primeiro EP – em coro com a banda.

Após o show ainda rolou um rango e um bom tempo para trocar ideia com os amigos que não via há algum tempo, faz falta ter mais shows como este na cidade. O que resta é ir atrás de novos espaços e trazer mais bandas, pois timidamente é perceptível que há público para isso.

Veja as fotos do rolê na próxima página!

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